Venerados  irmãos,
ilustres Senhores e Senhoras,
queridos irmãos e irmãs!
Estamos  reunidos em torno do altar do Senhor para acompanhar, com a celebração  do Sacrifício eucarístico, em que se atualiza o Mistério pascal, a  última viagem do querido Cardeal Luigi Poggi, que o Senhor chamou a si.  Ao destinar a cada um de vós a minha cordial saudação, agradeço em  particular ao Cardeal Sodano, que, como Decano do Colégio Cardinalício,  presidiu a a Santa Missa Exequial.
O Evangelho que foi proclamado  nesta celebração nos ajuda a viver mais intensamente o triste momento  do afastamento da vida terrena de nosso saudoso Irmão. 
A dor  pela perda de sua pessoa é mitigada pela esperança na ressurreição,  embasada na palavra do próprio Jesus: "Esta é a vontade de meu Pai: que  todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e eu o  ressuscitarei no último dia" (Jo 6,40). 
Diante do  mistério da morte, para o homem que não tem fé, tudo parece estar  irremediavelmente perdido. É a palavra de Cristo, então, a iluminar o  caminho da vida e a conferir valor a cada momento. Jesus Cristo  é o Senhor da vida, e veio para ressuscitar no último dia todo aquele  que o Pai lhe confiou (cf. Jo 6, 39). Essa é também a mensagem que Pedro  anuncia com grande força no dia de Pentecostes (cf. At 2, 14.22b-28).  Ele mostra que 
Jesus não poderia ser mantido na morte. Deus  dissolveu suas angústias, porque não era possível que essa o mantivesse  em seu poder. Sobre a Cruz Cristo alcançou a vitória, que devia se  manifestar com a superação da morte, isto é, com a sua ressurreição.
Neste  horizonte de fé, o nosso saudoso Irmão percorreu toda a sua existência,  consagrada a Deus e ao serviço dos irmãos, tornando-se assim uma  testemunha daquela fé corajosa que se confia a Deus. Podemos dizer que  toda a missão sacerdotal do Cardeal Luigi Poggi foi dedicada ao serviço  direto da Santa Sé. Nascido em Piacenza aos 25 de novembro de 1917, após  os estudos eclesiásticos no Colégio "Alberoni" e a ordenação  sacerdotal, recebida em 28 de julho de 1940, prosseguiu os estudos em  Roma, alcançando a laurea 
in utroque iure e realizando o  ministério sacerdotal nas paróquias romanas. Ao entrar na Pontifícia  Academia Eclesiástica, iniciou em 1945 o seu trabalho na então Primeira  Seção da Secretaria de Estado: anos difíceis, durante os quais ele não  se poupou no servir à Igreja. Depois de um primeiro encargo, na  primavera de 1963, diante do Governo da República da Tunísia para chegar  a um 
modus vivendi entre a Santa Sé e o Governo daquele país  sobre a situação jurídica da Igreja Católica na Tunísia, em abril de  1965 foi nomeado Delegado Apostólico para a África Central, com  dignidade de Arcebispo e jurisdição sobre Camarões, Chade,  Congo-Brazzaville, Gabão e República Centro-Africana. Em maio de 1969,  foi promovido a Núncio Apostólico no Peru, onde permaneceu até agosto de  1973, quando foi chamado a Roma com o título de Núncio Apostólico com  direitos especiais, nomeadamente para ter contatos com os governos da  Polônia, Hungria, Checoslováquia, Romênia e Bulgária, a fim de melhorar a  situação da Igreja Católica naqueles países.
Em julho de 1974,  foram institucionalizadas as relações entre a Santa Sé e o governo  polonês e Dom Poggi foi nomeado chefe da Delegação da Santa Sé para os  contatos permanentes de trabalho com o Governo da Polônia. Naquele  período, fez várias viagens à Polônia, encontrando muitas  personalidades, tanto políticas quanto eclesiásticas, tornando-se, à  escola de seu superior, o Cardeal Agostino Casaroli, um protagonista da  ostpolitik vaticana nos Países do bloco comunista. Em 19 abril de 1986,  foi nomeado Núncio Apostólico na Itália; uma vez nesta Nunciatura foi  encarregado de estudar as práticas relativas à provisão de bispos no  País. E, sempre naquele período, foi ele, na qualidade de Representante  Pontifício, responsável por gerenciar uma delicada fase de reorganização  das Dioceses italianas. Criado e proclamado Cardeal no Consistório de  26 de novembro de 1994, foi nomeado pelo Venerável Papa João Paulo II  Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana, conservando tal posto  até o final de março de 1998.
Queridos irmãos, foram proclamadas  há pouco as palavras do Apóstolo Paulo: "Se morremos com Cristo, cremos  que também viveremos com ele" (Rm 6, 8). Essa página da Carta aos  Romanos constitui um dos textos fundamentais do Lecionário litúrgico.  Com efeito, ela nos é proposta a cada ano durante a Vigília Pascal.  Pensemos nestas esclarecedoras palavras de São Paulo, enquanto rendemos  ao querido Cardeal Luigi Poggi o último e comovido adeus. Quantas vezes  ele próprio as terá lido, meditado e comentado! Aquilo que o Apóstolo  escreve a propósito da mística união do batizado com Cristo morto e  ressuscitado, ele agora está vivendo na realidade ultraterrena, liberto  dos condicionamentos impostos à natureza humana pelo pecado. "Na verdade  - como afirma São Paulo naquela mesma passagem - quem morreu está livre  do pecado" (Rm 6, 7). 
A união sacramental, mas real, com o  Mistério pascal de Cristo abre ao batizado a perspectiva de participar  da sua própria glória. E isso tem uma consequência já para a vida na  terra, porque, se em virtude do batismo nós já participamos da  ressurreição de Cristo, então já agora "podemos caminhar em uma vida  nova" (Rm 6, 4). Eis por que a morte piedosa de um irmão em  Cristo, tanto mais se marcada pelo caráter sacerdotal, é sempre motivo  de íntima e reconhecida surpresa pelo projeto íntimo da paternidade  divina, que nos liberta do poder das trevas e nos transporta para o  reino de Seu Filho amado (cf. Col 1, 13).
Enquanto invocamos para  nosso Irmão a materna intercessão da Beata Virgem Maria, Rainha dos  Apóstolos e Mãe da Igreja, confiamos sua alma eleita ao Pai da vida,  para que o introduza no lugar preparado para os seus amigos, fiéis  servidores do Evangelho e da Igreja.
Amém!
